A Universidade Federal do Pará (UFPA) está recebendo no período de 4 a 8 de novembro de 2025, a “Climate-U Network International Conference – Brazil – Amazon – 2025”. O objetivo do evento é possibilitar um espaço de debates voltados à COP 30, aproximando a comunidade científica e acadêmica das comunidades urbanas e tradicionais, fortalecendo diálogos interdisciplinares e intersetoriais em torno dos desafios climáticos contemporâneos.
O encontro, realizado no Instituto de Ciências da Educação (Iced/UFPA), no Campus Guamá, marca a articulação entre diversos aspectos relacionados ao ensino superior, à crise climática e à sustentabilidade, com a Conferência de 2025. Uma oportunidade de debate, troca de ideias e compartilhamento de novas pesquisas.

O professor Salomão Antônio Mufarrej Hage, coordenador local da rede Climate-U pela Universidade Federal do Pará (UFPA), destacou a importância do engajamento das universidades na busca por soluções coletivas diante da crise climática. “A nossa rede pauta o papel das universidades no enfrentamento da crise climática civilizatória e faz isso através da pesquisa-ação participativa”, afirmou.
Segundo Hage, a iniciativa reúne uma ampla rede de pesquisadores, lideranças comunitárias e representantes de movimentos sociais. “Temos trabalhado com povos quilombolas, extrativistas e outras comunidades, buscando ao mesmo tempo nos autoformar, produzir conhecimento e desenvolver ações qualificadas de governança com o território”, explicou.

Programação
As atividades planejadas para o evento incluem conferências, seminários interativos, workshops, trabalhos de pesquisa acadêmica e engajamento artístico-cultural, apresentando perspectivas interdisciplinares de palestrantes proeminentes e tomadores de decisão em educação para justiça climática.

A professora Sônia Fátima, doutora em Estudos Ibéricos e Latino-Americanos pela Queen Mary University of London, destacou que as mudanças climáticas representam uma das maiores ameaças ao planeta e à Amazônia, região de relevância global pela sua biodiversidade e sociodiversidade. “A Amazônia tem um papel fundamental no equilíbrio climático planetário. Quando observamos a intensificação dos efeitos da crise climática, percebemos diversos impactos, principalmente sobre as populações locais, em especial as comunidades indígenas e tradicionais. E, dentro disso, é importante incluir o impacto sobre as mulheres”, afirmou.
Segundo a professora, os efeitos da crise também comprometem a capacidade da floresta de atuar como reguladora do clima global. Por isso, ela avalia que realizar uma conferência dedicada às mudanças climáticas na Amazônia tem caráter estratégico, sobretudo em preparação para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em 2025.

Já a professora Marcela Vecchione Gonçalves, doutora em Ciência Política e Relações Internacionais pela McMaster University (Canadá), refletiu sobre as relações entre território, poder e políticas climáticas durante sua participação no encontro da rede acadêmica. Marcela abordou a diferença entre o que chama de “política do clima” e “políticas climáticas”, destacando que o primeiro conceito envolve relações de poder e resistência. “As políticas climáticas têm a ver com políticas públicas sobre o clima, decisões moldadas em nível nacional e internacional. Já a política do clima, com ‘P’ maiúsculo, trata da política enquanto teoria e filosofia, das relações de poder que estão por trás da própria construção do que se entende por clima, tanto na ciência quanto na sua socialização”, afirmou.
Para a pesquisadora, essas relações de poder também se manifestam na produção do conhecimento e nos espaços de pesquisa e educação. “As relações de poder estão presentes não apenas na modelagem científica, mas também nas formas de pesquisa e ensino. O clima é político porque envolve disputa, resistência e participação social.”
Ela lembrou ainda que, apesar dos avanços após o Acordo de Paris (COP21, em 2015), o processo das conferências internacionais tem sido cada vez mais capturado por interesses corporativos. “A convenção do clima vem sendo gradativamente apropriada por um poder que não é o dos territórios, mas o poder corporativo”, concluiu.

Imagens: Natalia Almeida