UFPA participa do III Fórum Varanda da Amazônia

A Universidade Federal do Pará participou do III  Fórum Varanda da Amazônia, nesta quarta-feira, 08 de outubro, em Belém, a convite da cantora, ativista e idealizadora do projeto Varanda de Nazaré, Fafá de Belém. Fizeram parte do painel “Educação, Ciência e Amazônia”, o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, e os professores Leandro Juen, coordenador do Centro Integrado da Sociobiodiversidade da Amazônia (Cisam/UFPA), Ellen Gomes, professora do Instituto de Geociências da UFPA, e a professora emérita da universidade, Violeta Refkalefsky Loureiro. O painel contou com a mediação do sociólogo e professor do Instituto de Estudos Avançados e do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Abramovay.

O reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, considerou o espaço concedido à universidade uma excelente oportunidade de debate sobre a Amazônia. “É importante trazer as pessoas para essa reflexão tão necessária sobre um pedaço do planeta que é muito falado, mas ainda pouco conhecido”, pontua. Segundo ele, há um distanciamento entre o imaginário popular e a complexidade real da região. “A gente fala muito da Amazônia, mas muitas vezes sem saber, de fato, o que é esse lugar. 

Homenagem 

“Amazônia, Amazônia. Quem te ama? Amazônia, Amazônia. Quem te ama?” Estas frases fortes e reflexivas marcaram o final da apresentação do poeta, professor e escritor João de Jesus Paes Loureiro, e do cantor Arthur Nogueira, que abriram a programação do Fórum, com poesia e música, antes dos painéis.

Em seguida, a cantora Fafá de Belém deu início à cerimônia de homenagem ao casal de professores da UFPA, Violeta Refkalefsky Loureiro e João de Jesus Paes Loureiro, pela notória contribuição artístico-literária, ao ensino e pesquisa na Amazônia.

“Ao homenagear João Jesus e Violeta, quero manifestar, em nome de todos nós que construímos essa Varanda – essa obra aberta, esse fórum vivo – o nosso respeito profundo e o enaltecimento necessário aos pensadores que estão debaixo da floresta”, ressaltou Fafá. “Debaixo da floresta tem gente, tem pensadores, tem pessoas reais. E é sobre essa massa viva, pensante, que precisamos lançar luz. Existe pensamento vivo pulsando aqui, e é sobre ele que devemos falar, dizer, reconhecer. Há uma COP por vir, e se existe uma voz a ser ouvida, que seja a nossa”, acentua.

Primeiro Painel do dia 

Em sua participação no primeiro painel do Fórum, o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, reforçou a presença ativa e diversa dos povos amazônidas. “Temos pesquisadores, trabalhadores extrativistas, quilombolas e indígenas. E é sobre essas pessoas que precisamos falar. Eu estou aqui neste painel para abordar um pouco sobre educação. Tenho a honra de dirigir uma universidade com mais de 50 mil estudantes, que está presente em diversos municípios do Pará. É um trabalho enorme, e nele temos buscado chamar atenção para o papel central do conhecimento”, comentou. O reitor também citou Paulo Freire, para quem “é preciso ler o mundo antes de ler as palavras”. E acrescentou: “Essa leitura do mundo precisa fazer sentido para quem vive aqui. É isso que temos tentado construir”, frisou.

“É uma emoção poder mediar um painel ao lado das pessoas que estão aqui presentes, protagonistas de uma insurgência que vai além do discurso e se realiza na prática. contra o que a geógrafa Bertha Becker chamou de ‘economia da destruição da natureza’. Essa tem sido, historicamente, a lógica do crescimento econômico na Amazônia”, frisou o professor Ricardo Abramovay. 

Compartilhando suas vivências na região e recapitulando importantes momentos históricos sobre o desenvolvimento da Amazônia, a professora emérita da UFPA, Violeta Refkalefsky Loureiro relembrou o papel do Estado que concorreu para a destruição da floresta e defendeu a biodiversidade como riqueza estratégica. Ela também comentou a importância da realização da COP 30 na Amazônia. “Pela primeira vez, colocamos a Amazônia no centro do mundo. Podia ter sido em São Paulo, que tem toda a infraestrutura, mas trouxeram para cá. Esse é o paradoxo: vivemos na região mais rica do planeta, do ponto de vista ambiental, mas em cidades pobres e sem destino econômico claro”, acentua. 

Ela chama atenção ainda para os riscos da restauração ecológica mal planejada. “Eu espero que a COP 30 ajude a consolidar a ideia de que, se o governo federal foi historicamente o responsável pelo desmatamento, agora também tem o dever de liderar a recuperação”, concluiu, sob os aplausos do público presente.

A professora Ellen Gomes, do Instituto de Geociências da UFPA, destacou o projeto Geocientes, que reúne alunos e professores de áreas como geofísica, geologia e oceanografia, com o objetivo de dialogar com crianças, adolescentes e comunidades sobre o uso responsável dos recursos naturais, pensando nas futuras gerações. “Com o tempo, o projeto passou a integrar estudantes da educação do campo, além de coletivos quilombolas e ribeirinhos, enriquecendo profundamente a proposta inicial”, explicou a docente. Para ela, o verdadeiro aprendizado está em reconhecer que a floresta, os rios e a terra como parte viva da cultura e do coletivo.

Já os desafios para a ciência na região amazônica deram o tom da participação do professor da UFPA, Leandro Juen. Ele comentou desde a falta de oportunidades até os altos custos logísticos para ensino, pesquisa e extensão, alertando que a Amazônia precisa ser tratada de forma diferente. “Operar na região é muito mais caro, mas o financiamento destinado às universidades amazônicas ainda é o mesmo do restante do país, uma equação injusta que compromete o desenvolvimento científico”, enfatizou. Ele também criticou a desigualdade na distribuição de recursos para ciência, lembrando que a “Amazônia ocupa quase 60% do território nacional, mas recebe menos de 5% dos recursos para pesquisa”.

Texto: Ana Teresa Brasil

Fotos: Natália Almeida