Estudantes e pesquisadores vão a campo no Oiapoque, no segundo dia do workshop “Sociobioeconomia e Biodiversidade na Pan-Amazônia Oriental”

O segundo dia do workshop “Sociobioeconomia e Biodiversidade na Pan-Amazônia Oriental”, realizado na cidade do Oiapoque (AP), foi marcado por intensa troca de conhecimentos, experiências em campo e construção coletiva de estratégias entre estudantes, professores e pesquisadores do Brasil e da Guiana Francesa. O evento, que segue até o dia 18, tem financiamento da Iniciativa Amazônia+10, da Embaixada da França no Brasil, com apoio do movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, lançado pela Universidade Federal do Pará (UFPA) em 2025.

Nesta quarta, 17, as atividades aconteceram simultaneamente no Campus Binacional do Oiapoque da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e no Museu Kuahí dos Povos Indígenas, com foco em oficinas práticas e discussões temáticas voltadas à sociobioeconomia e biodiversidade na região transfronteiriça.

No Campus Binacional, as professoras Grazielle Sales Teodoro e Francieli Bomfim, do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFPA), Bruna Façanha (UNIFAP/Campus Macapá) e o professor Emerson Monteiro (UNIFAP/Campus Binacional), conduziram oficinas de ciência para estudantes da UNIFAP, com foco na formação e extensão universitária voltada ao contexto amazônico. 

“As oficinas são um importante momento de troca com os alunos da UNIFAP. As turmas de biologia são muito diversas, com estudantes de comunidades tradicionais e indígenas, que tornaram as discussões bem ricas em diversos aspectos envolvendo a sociobiodiversidade”, destaca a docente Grazielle Sales Teodoro (ICB/UFPA). 

Já a professora Francieli Bomfim, também da UFPA, ressalta que foram abordados temas decisivos que integram os debates preparatórios para a COP 30. “Os alunos realizaram alguns trabalhos sobre os efeitos das mudanças do clima na biota aquática e nos serviços ecossistêmicos, que são discussões muito relevantes para a cop30, com muitos impactos no cotidiano e no desenvolvimento social e econômico da região”, acentua.

Segundo a professora Bruna Façanha (UNIFAP/Campus Macapá), a atividade de extensão com os alunos incentiva a pesquisa em ecologia, especialmente em uma área-chave que é o Oiapoque, região fronteiriça do Brasil e França. “É uma região que apresenta grande biodiversidade, mas ainda é pouco estudada. A partir desse evento, reforçamos a importância de investir em pesquisas conectadas a essas realidades locais, como fazemos em nossas redes e projetos, como o CAPACREAM, INCT-SINBIAM e CISAM”, relata.

Museu Kuahí

Uma outra parte da programação aconteceu em um lugar sagrado para os povos indígenas amazônicos da região, o Museu Kuahí. Um espaço histórico, dedicado à preservação e valorização da cultura e história dos povos indígenas Palikur-Arukwayene, Galibi Kali’na, Karipuna e Galibi-Marworno.

É neste cenário cheio de significado, que professores e pesquisadores interagiram com a comunidade local, por meio de oficinas temáticas divididas em dois grandes eixos: Avaliação da biodiversidade e serviços ecossistêmicos, incluindo o uso de ferramentas geoespaciais para conservação e desenvolvimento sustentável; e o Planejamento de projetos de sociobioeconomia em comunidades tradicionais, discutindo as demandas do setor vegetal, com vistas à construção de ações colaborativas transfronteiriças.

A professora da UFPA, Karina Dias da Silva, afirma que a programação no Oiapoque se destaca como relevante iniciativa de integração. “O Instituto Franco-Brasileiro de Biodiversidade surge como oportunidade de unir instituições e ampliar a cooperação científica transfronteiriça. O Oiapoque é o ponto de partida para essa integração”, avalia.

“Precisamos de projetos que conectem monitoramento da biodiversidade, sociobioeconomia e formação. Só assim transformaremos conhecimento em impacto real para a Amazônia”, reforça Filipe Machado França (INCT-SinBiAm, PPBio-AmOr, CAPACREAM).

Discussões de campo e estratégias colaborativas

À tarde, os estudantes participam de uma atividade de campo na Cachoeira do Aeroporto, na Vila Vitória, onde podem observar de perto aspectos ecológicos locais e debater aplicações práticas dos conhecimentos abordados nas oficinas.

Enquanto isso, professores e pesquisadores retornaram ao Museu Kuahí para dar continuidade às discussões em grupo, com foco na formulação de estratégias para dois projetos colaborativos entre o Brasil e a Guiana Francesa. A proposta é identificar desafios comuns e desenvolver soluções conjuntas voltadas à conservação ambiental e ao fortalecimento da sociobioeconomia regional.

O pesquisador Luciano Montag (UFPA, PPGECO), enfatizou que o evento vem impulsionar as atividades de pesquisa em rede. “A biodiversidade amazônica exige olhares múltiplos e trabalho em rede. Oiapoque nos permite integrar diferentes áreas de conhecimento e discutir em escala pan-amazônica”, considera.

“Este é um momento estratégico para consolidar a cooperação Brasil–Guiana Francesa. Queremos sair do Oiapoque com projetos concretos e compromissos de longo prazo”,  acrescentou o coordenador do seminário, Hervé Rogez (UFPA).

O dia encerrou com a apresentação dos resultados preliminares das oficinas e grupos de trabalho, preparando o caminho para as ações e articulações que serão discutidas no terceiro e último dia do evento, nesta quinta (18), com mesas redondas sobre financiamento e acordos bilaterais, e apresentação dos resultados das oficinas na forma de projetos e possibilidades de financiamento.

Texto: Ana Teresa Brasil – Assessoria de Comunicação – Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30

Fotos: Wallace Albuquerque