Artistas do grafite inauguram nesta sexta, 23, um painel artístico em muro da UFPA

Artistas do grafite do movimento de arte e ativismo nacional “Megafone Artivismo” e do Coletivo Mairi, que reúne artistas indígenas no contexto amazônico urbano, vão inaugurar em Belém nesta sexta, dia 23, às 10h da manhã, o mural em grafite referente à COP 30 e mudanças climáticas. A obra intitulada “A solução somos nós” tem como tela o muro do portão principal da maior universidade do Norte do Brasil, a Universidade Federal do Pará (UFPA). A pintura está sendo realizada com apoio institucional do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia/UFPA.
“Esse projeto apoiado pelo nosso movimento reforça a integração e a necessidade de ecoar as vozes da Amazônia por meio de diversas linguagens e a arte urbana é uma delas. Quando temos a parceria de comunidades indígenas e quilombolas, e vemos os artistas locais utilizando matérias-primas naturais desses territórios faz todo sentido, quando percebemos que essa é uma forma de expressar a sociodiversidade da nossa região”, enfatiza Izabela Jatene, da comissão executiva do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia.

O trabalho é assinado pelos integrantes do Coletivo Mairi: And Santtos/ PA (que fez a intervenção artística no prédio do PPGL/UFPA), Tai /PA artista indígena, Cely Feliz/PA artista indígena, além do artivista Mundano/SP (fundador do Megafone Ativismo).
“Esse mural conta uma história sobre a crise climática que estamos vivendo, abordando não apenas a destruição trazida pela ação predatória do homem, mas também deixando a mensagem de que nós somos a solução para esse problema. Isso pode ser visto quando temos grandes lideranças representando a nossa voz e que estão sendo homenageadas aqui”, acentua Danielle Souza (Iacy Anambé), curadora do Mural.
Dentre as personalidades homenageadas estão: Auricélia Arapiun (liderança indígena do Baixo-Tapajós, presidente do Conselho Deliberativo da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – Coiab) ; professora Zélia Amador de Deus (professora universitária da UFPA, militante dos direitos da população negra, atriz e diretora de teatro); Júlia Anambé, liderança indígena da Aldeia Anambé; e mestre Jorge (já falecido) liderança comunitária quilombola do Pará.

Parte do mural faz um alerta sobre a devastação da Amazônia: a pintura conta com material coletado em um território indígena, a aldeia Anambé, demarcada como a terra indígena mais próxima da capital paraense. Na grafitagem serão incluídos o carvão e as cinzas de queimadas ocorridas em 2024, que destruíram 40 mil hectares de floresta, dos 80 mil hectares que existiam originalmente nesse território. Uma outra parte do material foi recolhida da comunidade quilombola África (Mojú/PA), diretamente da Casa de Farinha do quilombo, a fim de reconhecer a importância dos povos tradicionais em seus processos artesanais de produção, como guardiões de suas culturas ancestrais e de respeito à floresta amazônica. Além disso, os artistas utilizam como pigmento as argilas das ilhas de Caratateua e Cotijuba, e também as que vieram do município do Acará, que são empregadas no processo de pintura do painel.
“Nós estamos utilizando pigmentos de eras ancestrais, incluindo os mais antigos da humanidade, que começaram a ser usados desde o período das pinturas em cavernas. Temos trabalhado com elementos naturais como as argilas, até mesmo como uma forma de tentar reduzir os impactos ambientais das tintas convencionais, e também, por outro lado, queremos fazer um alerta sobre as queimadas na Amazônia quando trabalhamos com as pinturas à base de carvão e cinzas de áreas degradadas aqui da região”, ressalta o artivista Mundano.
Acompanhe alguns detalhes sobre a pintura em grafite do mural:
Sequência 1 – Petróleo na foz do Amazonas (intervenção com lama, óleo e resíduos)
Sequência 2 – Queimadas (intervenção com carvão e cinzas)
Sequência 3 – Rios da Amazônia seco
Sequência 4 – Palafitas representando a vila da barca (maior periferia de palafitas do mundo que fica em Belém – racismo ambiental)
Sequência 5 – A solução somos nós! (representação de lideranças indígenas mulheres e representantes e lideranças negras)
Sequência 6 – Futuro ancestral (crianças e jovens num cenário futurista, na natureza, educação ambiental, etc)
Sequência 7 – Homenagem a lideranças amazônidas, ativistas, artivistas e defensores da região (intervenção feita com cinzas, carvão e argilas). Os nomes foram levantados nas mídias sociais do Mega fone e das Universidades Federais da Amazônia durante a semana.
Texto: Ana Teresa Brasil – Assessoria de Comunicação do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP30
Imagens: Natalia Almeida