Publicação “Ciência e Vozes da Amazônia” chega ao 5º número com foco na COP 30 e justiça climática

A quinta edição da publicação Ciência e Vozes da Amazônia amplia o debate sobre os desafios climáticos da região em um momento estratégico: a preparação para a COP 30, que ocorrerá em 2025, em Belém (PA). Reunindo artigos de pesquisadores, representantes de movimentos sociais e da sociedade civil, a nova edição articula ciência e engajamento social para discutir justiça climática, geopolítica, transformações urbanas e os impactos dos megaprojetos na região amazônica.

O editorial, assinado pelo reitor Gilmar Pereira da Silva, abre com um balanço do movimento desde sua criação, em fevereiro de 2025, destacando sua atuação na construção de narrativas que colocam a Amazônia no centro da agenda global de clima, mas sob a ótica dos povos e territórios que nela vivem.

Além disso, dessa vez, a coletânea apresenta dentre os principais destaques a Carta de Porto Velho, escrita por reitores(as) das universidades federais da região, reafirmando seu papel estratégico na promoção da justiça climática. Com forte inserção territorial e presença em mais de 180 municípios, segundo os autores, essas instituições são, em muitos casos, a única presença do Estado em áreas isoladas, contribuindo diretamente com ações voltadas às metas climáticas do Brasil, como o monitoramento ambiental e a ciência cidadã.

Outro texto relevante trata da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), assinado por Vanessa Grazziotin, ex-senadora e atual diretora executiva da OTCA, que analisa o papel histórico da organização frente aos desafios da fome, pobreza, desmatamento e mudanças climáticas. A autora ressalta a importância da Declaração de Belém, firmada pelos países amazônicos, mas alerta: sem justiça climática e compromisso dos países ricos, os esforços da região serão insuficientes.

A COP 30 também é abordada sob o ponto de vista geopolítico. Norbert Fenzl, pesquisador e professor Titular do Núcleo de Meio Ambiente (NUMA-UFPA), destaca que o evento ocorrerá em meio a uma crise internacional, marcada por guerras e mudanças na ordem global. O autor questiona o lugar das vozes amazônicas nesse contexto, desafiando pesquisadores e lideranças a escolherem entre reforçar valores eurocêntricos ou dialogar com o Sul Global.

Temas como agroecologia e ciência também ganham espaço. Luis Mauro Santos Silva, pesquisador no Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares (UFPA), propõe uma revalorização dos saberes do campo e da produção científica feita a partir dos territórios, defendendo um modelo de conhecimento mais inclusivo, ecológico e conectado aos saberes tradicionais.

Enquanto isso, a questão dos manguezais amazônicos é tratada pelos biólogos Dayene Santiago Mendes e Marcus Emanuel Barroncas Fernandes, do Instituto de Estudos Costeiros (IECOS-UFPA), que alertam para os riscos da poluição plástica e o avanço da crise climática sobre esses ecossistemas. Para os autores, a COP 30 é uma oportunidade decisiva para integrar os manguezais à agenda global e garantir proteção às populações costeiras.

Já Olga Castreghini, professora visitante do Programa de Pós Graduação em Geografia-UFPA, analisa os impactos da COP 30 como megaevento urbano. Em seu texto, ela destaca como grandes obras impulsionadas pela conferência podem beneficiar interesses privados e gerar exclusão social em Belém, exigindo um olhar crítico sobre as transformações urbanas que vêm junto com os discursos de sustentabilidade.

Por sua vez, o protagonismo comunitário em projetos acadêmicos é questionado por Adriano Quaresma, que denuncia a persistência de estruturas tecnocráticas e centralizadoras, mesmo em iniciativas que se dizem participativas. Para ele, o verdadeiro protagonismo exige investimento material, valorização dos saberes tradicionais e autonomia das comunidades envolvidas.

Outro tema em destaque é a atuação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), relatada por Anna Matos Mathis, representante da entidade. O texto mostra como o MAB fortalece a resistência popular por meio da organização de encontros internacionais, denúncias contra megaprojetos e articulação na Cúpula dos Povos. A autora reforça ainda que a COP 30 é  uma oportunidade de denunciar as violências promovidas em nome do “progresso”.

Encerrando a edição, o artigo assinado pelo professor de engenharia sanitária Carlos Eduardo Costa (CAMTUC-UFPA), e pelas mestrandas em Engenharia de Barragem e Gestão Ambiental (UFPA), Gabriela Rosa Batista e Lethicia Lima Cavalcante, denuncia o racismo climático no bairro da Matinha, em Tucuruí (PA), onde comunidades racializadas vivem em situação de negligência ambiental e social. Sem drenagem, saneamento ou políticas públicas efetivas, os moradores enfrentam os impactos diretos da crise climática sem qualquer suporte do Estado.

Por todas as questões evidenciadas, o quinto número da publicação Ciência e Vozes da Amazônia reforça a importância de uma ciência engajada, crítica e plural, capaz de ecoar as vozes dos territórios invisibilizados e questionar os rumos da transição climática em curso. A publicação se consolida como espaço fundamental de articulação entre pesquisa, ativismo e cidadania na região que será o epicentro das atenções globais em 2025.

Texto: Ana Teresa Brasil – Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30

Imagem: Divulgação