
Com o objetivo de fortalecer a participação amazônica nas discussões internacionais sobre o clima, o evento “Círculo de Diálogos: Camponeses na Amazônia e as Mudanças Climáticas” integrou a agenda do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, reunindo pesquisadores, comunidades tradicionais e representantes da sociedade civil.
A programação foi iniciada com uma conferência de abertura proferida pela professora Sônia Magalhães (INEAF/UFPA), que destacou a importância de integrar os saberes tradicionais e camponeses às práticas científicas. “Esse diálogo é fundamental para enfrentar os impactos das mudanças climáticas de forma mais justa e eficaz”, afirmou.

Ao longo do dia, palestras e debates abordaram temas como o uso de práticas agrícolas adaptadas à diversidade climática, a valorização das agroflorestas como alternativa à monocultura, especialmente em áreas da Amazônia ameaçadas pela degradação ambiental, e o papel da organização comunitária frente às mudanças globais.
Para o professor Aquiles Simões, coordenador do Grupo de Estudos Diversidade Socioagroambiental na Amazônia (GEDAF-NEA) e membro da comissão organizadora, o evento representa uma contribuição concreta para o debate climático a partir da realidade amazônica. “O Círculo de Diálogos busca ampliar a discussão sobre mudanças climáticas a partir da diversidade de saberes e práticas camponesas nas Amazônias. É um espaço de integração entre diferentes unidades da UFPA, outras instituições e organizações da sociedade civil, numa perspectiva interdisciplinar de co-construção do conhecimento”, afirmou. Simões salientou que além de seu caráter acadêmico, o evento teve forte dimensão política e cultural, fortalecendo o protagonismo da agricultura familiar e dos povos tradicionais na construção de políticas climáticas inclusivas.

Além disso, a programação foi marcada por reflexões interdisciplinares sobre a resistência camponesa e os modos de vida tradicionais na Amazônia. Amália Aguiar (SAAP/GEDAF/NEA-UFPA) discutiu a sociomaterialidade da mandioca e o saber-fazer da farinha como elementos centrais na (re)configuração de territórios quilombolas. Já Ana Julia Salheb (GEDAF- UFPA) abordou o desenvolvimento rural a partir dos sistemas produtivos tradicionais; Roberta Rowsy (GEDAF- UFPA) trouxe uma análise sobre governança sistêmica em projetos de assentamentos agroextrativistas no Pará, enfatizando as dimensões ecológicas e sociais interligadas nesses territórios. Em seguida, o pesquisador Hueliton Azevedo tratou do papel dos camponeses agroflorestais na criação e preservação de bens comuns, ressaltando práticas de cooperação e manejo sustentável.
O professor André Farias (NUMA/UFPA) apresentou uma síntese analítica sobre o protagonismo do campesinato amazônico diante das mudanças climáticas, apontando a centralidade desses sujeitos na construção de alternativas socioambientais. O evento foi encerrado com o lançamento do livro “Várzeas Estuarinas do Baixo Rio Tocantins: Uso Sustentável por Ribeirinhos e Agricultores”, organizado por Paulo Martins, Aquiles Simões, Francinei Tavares e Daniel Sombra. A obra celebra décadas de pesquisa voltadas à valorização dos modos de vida ribeirinhos e às práticas sustentáveis construídas em diálogo com a ciência e o território.
Mais do que um encontro acadêmico, a programação reforçou a urgência de construir soluções climáticas a partir da escuta ativa das comunidades locais: aquelas que vivem e resistem nos territórios mais vulneráveis da Amazônia.
Texto: Ana Teresa Brasil – ASCOM Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, com a colaboração de Camilla Queiroz Gaspar
Imagem: Divulgação