
Em sintonia com os desafios e as urgências do nosso tempo, a Universidade Federal do Pará (UFPA) acaba de lançar a 4ª edição da publicação “Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30”, como parte do movimento iniciado oficialmente em fevereiro deste ano. A proposta nasceu para fortalecer os espaços de diálogo entre ciência, saberes tradicionais e sociedade civil, destacando a centralidade da Amazônia nas discussões globais sobre a crise climática.
Idealizado como uma ação contínua de escuta e articulação, o movimento já percorreu diversos campi da UFPA e seus entornos, estabelecendo pontes entre universidades, comunidades locais, movimentos sociais e gestores públicos. Essa rede colaborativa vem construindo, a muitas mãos, uma agenda de reflexão e ação climática a partir das especificidades e realidades dos territórios amazônicos.
“O Ciência e Vozes da Amazônia é um movimento diverso, plural, inclusivo e solidário. Ele ecoa a produção científica da nossa universidade e, ao mesmo tempo, acolhe as vozes dos povos da floresta, das cidades, das águas, das juventudes e das resistências”, afirma o reitor Gilmar Pereira da Silva, ao destacar o papel da UFPA como articuladora de uma governança participativa voltada para a construção de caminhos exequíveis de adaptação e regeneração diante da emergência climática.

O novo número segue reunindo textos de pesquisadoras, pesquisadores, representantes de territórios quilombolas e indígens, e movimentos sociais, em linguagem acessível, sobre temas como justiça climática, segurança alimentar, desastres ambientais, cultura, educação e memória. Todo o material está disponível em quatro idiomas (português, inglês, francês e espanhol) no site oficial do movimento.
Temas em destaque – A publicação Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, em seu quarto número, apresenta uma diversidade de olhares que refletem a complexidade e riqueza do debate sobre a Amazônia no contexto das relações globais e da crise climática.
A ex-ministra francesa Christiane Taubira abre a coletânea com um texto que propõe um olhar crítico sobre as assimetrias entre o Norte e o Sul Global, desafiando a visão reducionista da Amazônia como “pulmão do planeta” e ressaltando a necessidade de uma governança climática mais equitativa para além dos fóruns multilaterais tradicionais.
No campo da ciência ambiental, o grupo liderado por Thadeu Sobral-Souza destaca os chamados “mapas de ignorância biogeográfica” — lacunas no conhecimento sobre a biodiversidade amazônica — e reforça a importância da COP 30 para direcionar mais recursos a estudos que possam apoiar a conservação efetiva da região, especialmente para as populações indígenas e tradicionais mais vulneráveis.
A Rede Resiliência na Amazônia, representada por Livia Pires do Prado e colaboradores, é apresentada como um exemplo de ciência em rede, cuja atuação colaborativa ultrapassa fronteiras para integrar saberes e fortalecer estratégias de conservação e gestão territorial.
No campo da educação ambiental, o Conselho Municipal de Educação de Belém, junto com a UFPA, é destaque por promover a valorização da temática ambiental nas escolas, por meio de ações que engajam a comunidade escolar em torno dos desafios climáticos atuais. Outro tema urgente abordado é o uso do fogo na Amazônia, analisado por José Max Barbosa Oliveira-Junior e equipe, que evidenciam os impactos ambientais, sociais e climáticos dessa prática, indicando a necessidade de políticas públicas integradas para combater os incêndios e seus efeitos.
Já o manejo sustentável dos ecossistemas pelos povos indígenas e comunidades tradicionais ganha voz no artigo de Tallyta Suenny Araujo da Silva, que dialoga com perspectivas antropológicas e arqueológicas para mostrar a importância dos saberes ancestrais no cuidado com a floresta. Na área jurídica, Rodolfo Fares Paulo e coautores discutem a função social da propriedade e o combate aos crimes ambientais, destacando a necessidade de bases legais sólidas para assegurar proteção ambiental e responsabilização efetiva.
Entre as questões da biodiversidade, Maria Auxiliadora Pantoja Ferreira e colaboradores apresentam estudos sobre a reprodução e ecologia de animais amazônicos, alertando para as mudanças comportamentais causadas por intervenções humanas e propondo estratégias para monitoramento e recuperação das espécies. Por fim, o texto de Gabriel da Cunha Melo chama atenção para a transição agroecológica realizada pelo MST em Castanhal (PA), como alternativa de produção orgânica que fortalece a resiliência territorial e contribui para a mitigação da crise climática, a partir de um diálogo entre comunidade, ciência e políticas públicas.
Convite à construção coletiva e à ação transformadora
Disponível em português, inglês, francês e espanhol, o material pode ser acessado gratuitamente no site https://amazonianacop.ufpa.br, onde também estão abertas as chamadas para a submissão de novos trabalhos. Assim, o movimento segue acolhendo contribuições que tragam reflexões, saberes e práticas transformadoras.
Neste momento crucial para o futuro da Amazônia e do planeta, a UFPA convida toda a sociedade a se unir neste diálogo plural e inclusivo, fortalecendo a ciência e os saberes locais como caminhos para a adaptação, regeneração e justiça climática.
Texto: Ana Teresa Brasil – Comunicação – Ciência e Vozes da Amazônia na COP30, com colaboração de Igor Oliveira
Imagem: Divulgação