UFPA encerra atividades nas Zonas Azul e Verde da COP 30 em cerimônia, na sexta (21), com lançamento de edição especial da Revista Ciência e Vozes da Amazônia

A cerimônia de encerramento das atividades da Universidade Federal do Pará (UFPA) nas Zonas Azul (Blue Zone) e Verde (Green Zone) da COP 30, na sexta-feira, 21 de novembro de 2025, foi marcada pelo lançamento de uma edição especial da série de publicações “Ciência e Vozes da Amazônia na COP30”, no Pavilhão Crea-Pará, da Zona Verde, no Parque da Cidade. O movimento editorial, iniciado em fevereiro de 2025, chegou ao seu sétimo número destacando a diversidade do pensamento amazônico

O ato simbólico contou com a presença da comunidade acadêmica, representantes de movimentos sociais, trabalhadores, convidados e membros da comissão executiva do “Ciência e Vozes”. O reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, ressaltou que a ocasião representa a síntese de uma intensa mobilização realizada ao longo de todo o ano. “Foi um trabalho difícil, desafiador, mas com um saldo extraordinário”, pontuou o gestor, reforçando que “o sucesso dessas ações não teria ocorrido sem a forte adesão social em apoio à universidade”. Na oportunidade, o reitor celebrou a ciência, os movimentos populares e os povos tradicionais nos debates sobre o enfrentamento às mudanças climáticas.

“Quero parabenizar a Universidade Federal do Pará pela importante contribuição nesse momento que estamos vivendo no nosso estado e região. Acredito muito que a ciência, a educação e diferentes áreas do conhecimento, a exemplo das engenharias, são o grande diferencial que precisamos para superar as dificuldades que enfrentamos no Pará e na Amazônia”, frisou a presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA-PA).

Também prestigiaram o evento, a vice-reitora da UFPA, Loiane Prado Verbicaro; o Secretário Geral da Reitoria da universidade, Doriedson Rodrigues; o diretor-presidente da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (FAPESPA), Marcel Botelho; o reitor da Universidade Federal de Jataí (UFJ), Christiano Peres Coelho; o reitor da Universidade Federal do ABC (UFABC), Nelson Matheus; o pró-reitor de Administração (UFPA), Raimundo da Costa Almeida; o pró-reitor de Extensão (UFPA), Nelson de Souza Júnior; e a diretora geral do Instituto de Ciências da Educação (ICED/UFPA), Eliana da Silva Felipe; dentre outras personalidades fundamentais na consolidação do movimento.

Publicação

A publicação “Ciência e Vozes da Amazônia” tem como objetivo amplificar e circular  saberes, pesquisas e experiências produzidas nos territórios da região durante as fases “pré-COP”, “durante” e que deve seguir “após a Conferência do Clima”. A edição especial destaca a diversidade de temas e vozes da região, conforme ressalta o editorial assinado pelo reitor Gilmar Pereira da Silva, que enfatiza que a Amazônia precisa estar no centro das decisões climáticas globais.

A revista abre com a “Carta de Belém: Ciência em Rede para a Amazônia e a COP30”, assinada coletivamente por instituições signatárias, tais como universidades, institutos de pesquisa, comunidades locais e parceiros internacionais. O documento reúne compromissos e diretrizes para fortalecer redes de conhecimento colaborativo em defesa da floresta e de seus povos.

Na sequência, o artigo “Malária e desmatamento: conexões na paisagem Amazônica” é assinado por Gabriel Zorello Laporta, Carla Gisele R. Garcia, Lilian Jéssica Passos Lima, Marinete Marins Póvoa, Paula Ribeiro Prist e Maristela Gomes Cunha, que analisam como o avanço do desmatamento intensifica riscos e vulnerabilidades relacionados à malária.

Os impactos das mudanças climáticas sobre o rio Solimões são tema do artigo “Crise climática no Médio Solimões: impactos socioecológicos das secas extremas e soluções comunitárias para o futuro”, elaborado por Rafael Rabelo, Ayan Fleischmann e Tabatha Benitz, que descrevem os efeitos das secas extremas sobre povos indígenas e comunidades ribeirinhas, além das estratégias locais de adaptação.

Biomas, Pesquisa-Ação e Monocultura

O debate sobre integração de biomas aparece no texto “Dois biomas, um futuro: por que a COP30 precisa integrar Amazônia e Cerrado?”, assinado por Angelita Pereira de Lima, Pedro da Costa Novaes, Paulo de Marco Júnior, Mário Barroso e Laerte Guimarães Ferreira. O grupo defende a necessidade de superar a fronteira política que trata o Cerrado como área sacrificável para priorizar a conservação da Amazônia.

A edição também traz o artigo “Pesquisa-Ação Participante e Soberania dos Povos da Amazônia: O CAPACREAM na construção de uma Ciência Colaborativa e Decolonial”, de James Ferreira Moura Jr., Leandro Juen, Clarissa Alves da Rosa, André Luís Campanha Demarchi, Raimunda Lucineide Gonçalves Pinheiro, Filipe Machado França, Domingos de Jesus Rodrigues e José Julio de Toledo, que apresenta como a pesquisa-ação tem fortalecido processos de soberania e protagonismo comunitário.

Em “Monocultura do arroz no arquipélago do Marajó: violações de direitos, impactos socioambientais e resistências quilombolas em Salvaterra/PA”, o autor Klébson Salgado Glória expõe como o agronegócio do arroz tem produzido danos ambientais e sociais sobre territórios quilombolas do Marajó, ao mesmo tempo em que destaca as formas de resistência locais.

Fafá de Belém assina artigo

A cantora e ativista Fafá de Belém assina o artigo “A voz da Amazônia é herança viva da humanidade”, um texto sensível que reivindica a Amazônia como patrimônio ambiental, cultural, espiritual e humano.

Foto: Divulgação Fafá de Belém

O tema do financiamento climático surge em “Financiamento Climático e o Tropical Forest Finance Facility (TFFF): oportunidades e desafios para a Amazônia”, escrito por Glenda Socorro Malcher Mendes, Laila Carvalho Tavares, Louyse da Silva Bezerra e Luena Ossana Canavieira, que analisam potenciais e entraves do mecanismo para a região.

Em seguida, o artigo “Além dos estereótipos: Refletindo sobre gênero, agência e mudança climática nas comunidades amazônicas de Caxiuanã” é assinado por Benika Lal, Gabriel de Queiroz Alves, Isabel Rocha, Keila Siqueira e Manuela Henrique da Silva, convidando o leitor a enxergar a Amazônia pelas vivências de mulheres e comunidades que enfrentam a crise climática no cotidiano.

O reconhecimento do papel das populações tradicionais no enfrentamento climático aparece no artigo “O Conselho Internacional para a Conservação da Fauna e da Vida Selvagem (CIC) reconhece os Povos Indígenas e as Comunidades Locais (IP e LCs) como protagonistas no enfrentamento das mudanças climáticas”, de Maria Margarita Arrieta-Garcia e Thomas Paulic.

Fechando a edição, Dan Rodrigues Levy assina “Justiça e Litigância Climáticas: o papel do Sistema de Justiça diante da Crise Climática Global”, que sintetiza debates e casos nacionais e internacionais, mostrando como diferentes instrumentos jurídicos vêm sendo usados para responder à crise climática.

Com essa edição especial, a coleção “Ciência e Vozes da Amazônia” destaca o papel das instituições de ensino e pesquisa, tecnologia e inovação na produção e difusão do conhecimento amazônico, reafirmando que as respostas à crise climática só serão efetivas quando partirem da ciência, dos povos e das vozes da própria Amazônia.

Texto: Ana Teresa Brasil – Ciência e Vozes da Amazônia

Fotos e vídeo: Natália Almeida e Rafael Miyake