
O “Ciência e Vozes da Amazônia” foi pauta do Le Monde Diplomatique Brasil, edição brasileira da publicação mensal francesa, que se dedica a análises aprofundadas sobre política, economia e relações internacionais. A entrevista foi concedida pelo reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Gilmar Pereira da Silva, e pelo coordenador do Centro Integrado da Sociobiodiversidade Amazônica (CISAM/UFPA), Leandro Juen.
No bate-papo com o jornalista Silvio Caccia Bava, no dia 18 de novembro, os representantes da UFPA acentuaram a força de um movimento que se consolidou como referência da COP 30, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCC), realizada em Belém do Pará.

Questionados sobre as ações empreendidas, desde o lançamento da iniciativa em fevereiro de 2025, os entrevistados enfatizaram que, além de inúmeras ações e eventos, o movimento chega a essa trigésima edição da COP com uma revista, alcançando seis volumes publicados ao longo do ano e que circula em quatro idiomas (português, inglês, francês e espanhol). A publicação expressa a pluralidade da Amazônia por meio de jovens, cientistas, lideranças populares, artistas, povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, conectando saberes, territórios e perspectivas diversas sobre mudança climática, justiça social e o futuro da região.
O professor Gilmar Pereira da Silva enfatizou que o “Ciência e Vozes” se tornou um sucesso e um verdadeiro marco de virada ao evidenciar aquilo que a Amazônia produz com excelência. “Nossa universidade desenvolve ciência de ponta, protagonismo comunitário, diversidade cultural e institucionalidade robusta. Pela primeira vez em uma COP, uma universidade amazônica conseguiu reunir tamanha diversidade de sujeitos, vozes e redes de pesquisa em diálogo direto com o Brasil e com o mundo”, destacou o reitor.
O professor Gilmar Pereira reforçou ainda que a UFPA esteve no centro desse processo. Ele relatou que foi estruturada uma ampla presença com programações e espaços espalhados pela cidade, tais como o Pavilhão da UFPA na Blue Zone (Zona Azul da COP 30). Além disso, segundo o gestor, a instituição protagonizou debates na Green Zone (Zona Verde), realizou eventos grandiosos no Campus Guamá, em Belém, além da atuação do Fórum Landi, do Instituto de Ciências da Arte (ICA), Museu da UFPA, Complexo dos Mercedários, Escola de Aplicação da UFPA (EAUFPA), onde foi realizada a Aldeia COP, dentre outros espaços abertos ao público.
“Esses ambientes foram transformados em territórios de debate, formação, encontros e articulação entre ciência, tecnologia, saberes ancestrais e movimentos sociais”, destacou Pereira. Ele frisou que, ao todo, mais de 80 painéis na Blue Zone e centenas de ações paralelas foram organizadas, fortalecendo diálogos sobre cidadania, justiça climática e sociobiodiversidade.

Representação e mobilização
Vale ressaltar que o reitor Gilmar Pereira da Silva teve um papel proeminente em toda a mobilização, representando a UFPA em reuniões bilaterais, encontros internacionais e painéis estratégicos. Em sua entrevista ao Diplomatique, ele reforçou que a UFPA é uma instituição plural, pública, amazônica e profundamente comprometida com os povos da região, reconhecendo também o custo amazônico, o desafio estrutural de fazer ciência, ensino e extensão em uma região continental como a Amazônia.
Já o pesquisador Leandro Juen destacou o papel das redes de pesquisa amazônicas, das quais é articulador, incluindo PPBio Amazônia Oriental (PPBio-AmOr), PELD-AmOr, INCT-SynBiAm, CAPACREAM, CISAM, entre outras iniciativas que fortalecem a colaboração científica, a formação de jovens pesquisadores e a produção de conhecimento de alta relevância para orientar políticas públicas. Segundo o docente, essas redes estiveram fortemente representadas na COP30, mostrando como a ciência amazônica opera em cooperação, integrando instituições, territórios e saberes diversos.




Outro marco apresentado na entrevista foi a entrega de dois documentos históricos durante a COP30: A Carta das Instituições Amazônicas com Contribuições para as NDCs, consolidada por universidades, institutos de pesquisa e redes científicas da região, que apresenta diretrizes e recomendações para que o Brasil incorpore a Amazônia de forma justa, estratégica e baseada em evidências em seus compromissos climáticos. E a Carta de Belém, produzida de forma colaborativa durante o Encontro de Redes Amazônicas de Pesquisa, reafirmando o protagonismo dos povos amazônicos, a centralidade da ciência da região e as demandas estruturantes para enfrentar a crise climática com justiça e soberania.
Para os pesquisadores, a entrevista ao Le Monde Diplomatique reforça que a presença da UFPA na COP30 não foi apenas institucional, mas sim uma afirmação histórica da ciência amazônica. Um momento que consolida a universidade, suas redes e seus parceiros como protagonistas de uma agenda global que precisa, mais do que nunca, ouvir, reconhecer e apoiar quem vive, estuda, protege e transforma a Amazônia diariamente.
Assista à entrevista completa em: https://www.youtube.com/watch?v=9-mafjSeNOM
Texto: Ana Teresa Brasil – Ciência e Vozes da Amazônia
Fotos: Reprodução Le Monde Diplomatique no YouTube