Uma estrutura organizada especialmente para acolher os povos indígenas do Brasil e de outros países, durante a Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP 30), começa a receber as primeiras delegações neste final de semana.
O espaço Aldeia COP, que deve hospedar cerca de três mil pessoas de várias etnias, está localizado na Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFPA), em Belém, e foi visitado nesta sexta-feira, 07 de novembro de 2025, pela ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sônia Guajajara. A titular da pasta afirma ser de extrema relevância a escuta das comunidades tradicionais durante os debates que decidirão o futuro da Amazônia e do planeta. “Tudo o que foi discutido e apontado como solução até aqui não foi suficiente para reduzir as emissões e diminuir a temperatura média global do planeta. Até agora nada foi o suficiente. Por isso que é importante escutar a ciência, mas também considerar quem realmente está protegendo. E neste caso, todos os estudos mostram que povos indígenas são fundamentais para enfrentar a crise climática”, acentuou.
A ministra destaca também a importante parceria com a universidade. “No decorrer do diálogo, da parceria e de toda essa abertura que a universidade deu para nós, a gente entendeu que estamos construindo mais do que um espaço físico. É uma relação que fica para toda essa construção que a gente precisa fazer para o futuro. A UFPA está sendo muito significativa para a gente, apoiando muito em toda a construção, apoiando muito em todo esse acolhimento. E aqui também fica o nosso compromisso de deixar legado nessa escola”, enfatizou Guajajara.
Para o diretor da Escola de Aplicação da UFPA, Edilson Nery, a Aldeia COP é motivo de orgulho para a instituição. “Este é um marco na história da nossa escola. Nesses mais de 60 anos de fundação é a primeira vez que nós recebemos um evento deste porte. E, como um espaço de formação de cidadãos e cidadãs, receber os povos originários é também uma grande ação prática daquilo que nós estudamos e desenvolvemos ao longo dos anos”, enfatiza.
O manauara Davison Silva, cientista social e produtor da Aldeia COP, que já atuou em outros projetos pelo Brasil, destaca que esse, em particular, é especial, porque as populações tradicionais estão integradas em todo o processo. “Eu acho importante falar que os povos indígenas estão liderando este trabalho, desde a escala política à de produção, para que possamos entregar um resultado com qualidade, e em um tempo hábil”, frisou. “Além de querer proporcionar um espaço que aloje 3 mil pessoas, a gente quer entregar algo diferente, que as pessoas nunca viram, que seja inclusivo e acolhedor”, concluiu.




Aldeia COP é lugar de expressão e reconhecimento
Para a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, a Aldeia COP é a forma encontrada para garantir que as principais vozes na defesa da Amazônia sejam ouvidas. “Nesse momento, é importante a responsabilidade conjunta, onde governos têm o seu papel, assim como a sociedade civil tem um poder muito grande. Se esse poder vem junto, organizado, mobilizado, tem uma capacidade de influenciar de forma muito significativa”, ressaltou
Ela explicou, ainda, que o uso do espaço da Escola de Aplicação garante a participação dos povos, que não precisarão disputar hospedagem com delegações e organizações internacionais. “Resolvemos fazer nossa própria aldeia, construindo um espaço onde a gente não competisse com mais ninguém”, afirmou a ministra.
Idealizada e construída pelo Governo Federal, por meio do Ministério dos Povos Indígenas, a iniciativa conta com mais de 50 trabalhadores de todo o Brasil que, desde o dia 06 de outubro, atuam de forma incansável para finalizar a adequação do espaço até o início da conferência, nesta segunda-feira (10). Dentre os membros da equipe estão 15 internos do sistema penitenciário paraense, por meio do Projeto Liberdade, de apoio à ressocialização, e que garante a redução de pena por meio do trabalho remunerado.

Estrutura da Aldeia COP é assinada por Marcelo Rosembaum
Além de alojamento completo, a Aldeia COP inclui dentre os principais destaques do espaço, a Casa Ancestral, lugar de realização de métodos de medicina tradicional e religiosidade; e o Domo, principal centro de plenárias e debates, além de pontes de palafita e espaços abertos de convivência. Todos esses ficarão de legado da Conferência para os estudantes e servidores da instituição.
A beleza das estruturas que recebem toques amazônicos e grafismos indígenas, chama a atenção de quem visita o lugar. O projeto é assinado pelo arquiteto Marcelo Rosembaum, que tem experiência na criação e na intervenção arquitetônica a partir do olhar de comunidades tradicionais, como a do povo Yawanawá, no estado do Acre. Ele visitou o espaço neste sábado, 08 de novembro, e falou com a equipe de reportagem do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30.




Texto: Ana Teresa Brasil e Rafael Miyaki – Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP30
Fotos: Aryanne Almeida / Kaio Cardoso
Vídeo: Rafael Miyake