Ciência e Vozes da Amazônia destaca integração entre biomas e papel das universidades no Fórum Internacional de Sustentabilidade da USP

O movimento Ciência e Vozes da Amazônia participou, nesta quinta-feira (16/10), do Fórum Internacional de Sustentabilidade, Inovação e Peace Engineering, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP). Em sua terceira edição, o evento se consolidou como uma plataforma colaborativa que conecta universidades, empresas e poder público para transformar intenções em ações concretas em prol da sustentabilidade, da justiça social e da inovação tecnológica.

O professor Gilmar Pereira da Silva, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), enfatizou o papel das universidades públicas como pilares da sustentabilidade e da justiça social, em mensagem enviada ao Painel Inovação e Justiça Social. “A universidade pública na Amazônia é mais que uma instituição de ensino: é uma ferramenta de justiça social e transformação de vidas. Sem reconhecer o rio, a floresta e o amazônida, não há sustentabilidade possível, apenas desigualdade reproduzida”, afirmou.

Ele destacou ainda na mensagem a necessidade de reconhecer o ‘custo Amazônia’, relacionado às dificuldades logísticas, territoriais e tecnológicas que encarecem a produção científica na região, propondo três medidas essenciais: a inclusão de critérios de equidade regional nos editais de fomento, investimentos em infraestrutura científica e digital, e financiamentos plurianuais que assegurem a continuidade de projetos amazônicos.

Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica: biomas interdependentes

As discussões do Fórum também reforçaram a conexão entre os biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, evidenciando que a sustentabilidade depende de uma visão integrada do território brasileiro. Um exemplo são os “rios voadores” que partem da floresta amazônica e abastecem os céus do Sudeste, garantindo chuvas, energia e produção agrícola, o que torna a preservação da Amazônia uma condição essencial para a estabilidade climática nacional.

Segundo o professor Gerson Damiani, conselheiro e diretor executivo do Global Institute for Peace (GLIP-USP), em português Instituto para Paz e Resolução de Conflitos, da Universidade de São Paulo, o evento marca o propósito de uma ação continuada e fecunda, que pode ser estendida para depois da Conferência do Clima da ONU, em Belém. “Esperamos que possamos levar uma agenda propositiva para a COP30, que poderá funcionar com uma plataforma propulsora para a continuidade das atividades nos anos vindouros”, acentua.

Já o professor Ramiro Jordan, da Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, destacou em sua palestra a “engenharia pela paz”, uma abordagem tecnológica voltada para resolver problemas sociais e promover o bem comum, algo que depende fortemente do ambiente digital, ou seja, a tecnologia e a internet permitem criar soluções que podem ser medidas, testadas e replicadas em qualquer lugar do mundo. Para ele, a paz e o desenvolvimento sustentável também podem ser construídos com base em dados, ciência e tecnologia, usando sensores físicos (como os de monitoramento ambiental) e sensores sociais (como indicadores de comportamento, opinião ou impacto comunitário). “No método científico, temos que produzir dados que são verificáveis, confiáveis e reproduzíveis. Dessa forma, o que se descobre é válido aqui, na China, na França, no Brasil, em todo o mundo. É o método científico, a digitalização e os sensores, tanto sociais quanto físicos”, concluiu.

Mobilização para a COP 30

Representando o movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, o professor Leandro Juen apresentou o painel “COP30: Ciência e Vozes da Amazônia”, destacando as ações e resultados alcançados pelas redes de pesquisa coordenadas pela UFPA. Entre os destaques estiveram o PPBio Amazônia Oriental, o INCT-SinBiAm, o CAPACREAM e o CISAM, que desenvolvem projetos voltados à conservação, educação, monitoramento ambiental e fortalecimento da bioeconomia baseada na sociobiodiversidade.

“Nosso objetivo é amplificar as vozes amazônicas e garantir que pesquisadores, povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas e agricultores familiares estejam no centro do debate climático global. A COP30 será uma oportunidade histórica de mostrar que a Amazônia pensa, cria e propõe soluções”, destacou Juen.

O professor também apresentou o histórico de mobilização do movimento, que inclui eventos como o Conexões Amazônicas – Ciência em Rede para a COP30, que resultou na Carta de Belém, documento que reúne as contribuições das redes amazônicas em sociobiodiversidade para as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil. A Carta propõe diretrizes para uma transição justa e territorialmente equilibrada, baseada na valorização do conhecimento local e na cooperação científica entre regiões.

O papel das universidades públicas

Durante as apresentações, a UFPA foi destacada como um laboratório vivo de soluções socioambientais, com 12 campi no Estado e mais de 60 mil pessoas envolvidas em ensino, pesquisa e extensão. Juntamente com ela, as universidades amazônicas são “guardiãs da sociobiodiversidade”, atuando na formação de profissionais locais, no fortalecimento de redes de pesquisa e na co-produção de evidências científicas para informar políticas públicas.

O Fórum reforçou o papel das instituições de ensino e pesquisa na integração de saberes científicos e tradicionais, estimulando a cooperação entre biomas e regiões brasileiras para a construção de uma nova economia baseada em bioinovação, energia limpa e valorização da sociobiodiversidade.

Sobre o movimento

O Ciência e Vozes da Amazônia é uma iniciativa da UFPA e de suas redes parceiras, criada para fortalecer a presença amazônica nos espaços de decisão e divulgar a ciência produzida na região. O movimento tem promovido encontros, publicações e debates para ampliar a participação de pesquisadores e comunidades locais nas discussões globais sobre mudanças climáticas e justiça socioambiental.
Mais informações sobre o Fórum, programação e participantes estão disponíveis no site: https://www.iea.usp.br/eventos/forum-internacional-sustentabilidade.

Texto e fotos: Divulgação Ciência e Vozes