
A Universidade Federal do Pará (UFPA) recebeu nesta quinta-feira, 2 de outubro, a visita da comitiva francesa do Muséum National d’Histoire Naturelle (MNHN), em português Museu Nacional de História Natural, liderada por seu presidente, Gilles Bloch. A missão teve como objetivo ampliar a cooperação científica com instituições brasileiras, em especial com a UFPA e suas redes de pesquisa sobre biodiversidade e mudanças climáticas, no contexto de preparação para a Conferência das Partes, a COP 30.
Participaram da visita Jane Lecomte, especialista em dinâmica populacional e processos de dispersão em paisagens fragmentadas e integrante do Conselho Binacional do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA); Carole Pierlovisi, diretora de Relações Internacionais do MNHN; e Nadège Mezié, coordenadora do CFBBA.
Para o professor Leandro Juen, coordenador do Centro Integrado da Sociobiodiversidade da Amazônia (Cisam/UFPA), “a cooperação científica entre França e Brasil, e em especial entre a UFPA e o Muséum National d’Histoire Naturelle, é estratégica para enfrentar desafios globais em biodiversidade e mudanças climáticas”, acentua.
Já o diretor do MNHN, Gilles Bloch, enfatizou a relevância das parcerias institucionais com o Brasil. “O Muséum tem quase quatro séculos de história e reúne mais de 68 milhões de espécimes. O futuro da ciência depende de cooperação internacional, e o Brasil é um parceiro essencial na agenda global de biodiversidade e clima”, pontuou. Na sequência, a professora Jane Lecomte apresentou estudos sobre ecologia de populações e fragmentação de habitats. “Compreender como as espécies se dispersam em paisagens alteradas é essencial para orientar estratégias de conservação. Projetos conjuntos com a UFPA e suas redes de pesquisa são oportunidades concretas de avançar esse conhecimento”, frisou Lecomte. Em seguida, Carole Pierlovisi reforçou a dimensão institucional da cooperação. “O Brasil é prioridade na nova estratégia internacional do MNHN. Queremos ampliar acordos acadêmicos, apoiar a mobilidade de estudantes e integrar equipes em projetos de longo prazo em biodiversidade e sustentabilidade”, adiantou.
Por sua vez, Nadège Mezie salientou o papel do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA). “O CFBBA está se consolidando como um espaço de cooperação binacional. Nosso objetivo é abrir novas oportunidades de pesquisa conjunta, formação de jovens pesquisadores e integração de saberes para enfrentar os desafios ambientais da Amazônia”.
“A UFPA mantém hoje 28 acordos ativos com instituições francesas, que envolvem cooperação acadêmica, cotutelas e dupla diplomação. A presença da comitiva do MNHN reforça esse compromisso e abre novas oportunidades para ampliar a mobilidade de estudantes e docentes, fortalecer nossas redes de pesquisa e consolidar a internacionalização da universidade”, ressalta o diretor de Acordos Internacionais e Assuntos Estratégicos da Pró-reitoria de Relações Internacionais (PROINTER/UFPA), Anderson Francisco Guimarães Maia.





Frentes de Pesquisa – Ainda durante o encontro, na UFPA, foram apresentadas as frentes de pesquisa que poderão se beneficiar diretamente da parceria. Foram mencionadas as redes PPBio/PELD-AmOr, CISAM, INCT-SinBiAm e CAPACREAM, pelo professor Filipe França, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia (PPGECO/UFPA) e professor da Universidade de Bristol (Reino Unido). “Ainda enfrentamos enormes desigualdades de investimento em ciência na Amazônia, mas nossas redes estão consolidando colaborações em múltiplas escalas. Produzimos dados de longo prazo, trabalhamos com comunidades locais e formamos pesquisadores amazônicos. Essa parceria com o MNHN amplia nossa capacidade de síntese científica, de internacionalização e de informar políticas públicas que dialoguem com a realidade regional”, enfatizou. A professora Grazielle Teodoro, do Laboratório de Ecologia de Produtores Primários (ECOPRO/UFPA), trouxe exemplos ligados à vegetação. “Nossos estudos analisam as estratégias ecológicas de plantas aquáticas e terrestres em diversos ecossistemas amazônicos. Avaliamos a resposta da vegetação às mudanças climáticas e alterações do uso do solo, como os impactos do manejo, como o do açaí em áreas de várzea. Projetos conjuntos podem avançar o entendimento de como os ecossistemas respondem às mudanças climáticas e orientar estratégias de restauração”.
O pesquisador Joás Brito, do Laboratório de Ecologia e Conservação (LABECO/UFPA), apresentou a contribuição de longo prazo da equipe, que monitora insetos aquáticos, peixes e macrófitas em mais de 500 sítios de amostragem; e a professora Ana Cristina Mendes de Oliveira (UFPA) destacou estudos sobre a vulnerabilidade dos mamíferos frente aos processos antropogênicos na Amazônia. O pesquisador da UFPA Lucas Colares (INCT SinBiAm) apresentou o projeto IARAA, que desenvolve câmeras, gravadores e algoritmos de inteligência artificial para identificar espécies, sempre em parceria com povos indígenas, como os Kayapó-Menkragnoti.
Além das pesquisas biológicas, outras áreas também ganharam espaço. A professora Daiana Travassos Alves (UFPA – Faculdade de Ciências Sociais) lembrou que a história humana na região deixou marcas duradouras. “A arqueologia na Amazônia mostra que o uso da terra pelos povos pré-coloniais deixou marcas profundas na biodiversidade atual. As práticas de policultura agroflorestal e o manejo do fogo resultaram em florestas mais diversas e resilientes, com presença de cultígenos nativos e exóticos. Esses legados históricos ajudam a entender como as sociedades humanas moldaram ecossistemas e apontam caminhos para práticas sustentáveis hoje”, conclui.
Cooperação – Os docentes ressaltaram, ainda, o impacto direto da visita sobre a formação acadêmica. Para o professor Luciano Montag, coordenador do PPGECO, “o encontro reforça a importância da internacionalização do Programa de Pós-Graduação em Ecologia. Para nós, docentes, abre novas possibilidades de cooperação em projetos de longo prazo, intercâmbio acadêmico e consolidação de redes internacionais”, reforça. A vice-coordenadora do PPGECO, professora Thaísa Michelan, considera que esse encontro simboliza um novo marco da parceria UFPA-França. “Essa aproximação com o Muséum National d’Histoire Naturelle amplia as oportunidades para nossos estudantes em termos de mobilidade e coorientações internacionais, além de fortalecer a integração de nossos docentes em projetos que combinam ciência de excelência com impacto social e ambiental”, acentua.
História e contribuição científica – O MNHN reúne quase quatro séculos de conhecimento e uma das maiores coleções científicas do mundo, enquanto a UFPA vem se consolidando como protagonista na pesquisa amazônica. Em 2024, segundo levantamento da Elsevier, a universidade foi apontada como a instituição que mais produz conhecimento científico sobre biodiversidade em toda a Pan-Amazônia, o que reforça sua posição de liderança e a relevância de estreitar laços com parceiros internacionais de excelência.

Texto: Ana Teresa Brasil – Assessoria de Comunicação – Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, com informações da Comissão Executiva
Imagens: Divulgação LABECO