
Apresentação de relevantes projetos de pesquisa do Brasil e da Guiana Francesa, financiamento e cooperação internacional estiveram em evidência na cidade do Oiapoque, no Amapá, entre os dias 16 e 18 de setembro. O encontro “Sociobioeconomia e Biodiversidade na Pan-Amazônia Oriental”, movimentou a comunidade acadêmica, representantes governamentais e de movimentos e povos tradicionais da Pan-Amazônia, além de organizações binacionais, para tratar da importância da integração regional para enfrentar desafios comuns frente às mudanças climáticas e outras questões socioambientais.
“Este é um momento estratégico para consolidar a cooperação Brasil–Guiana Francesa”, destaca o coordenador geral do evento, o professor Hervé Rogez, da ufpa. As atividades do encontro iniciaram na terça, 16 de setembro, com a presença de autoridades, pesquisadores, lideranças indígenas e estudantes do Brasil e da Guiana Francesa. Com financiamento da Iniciativa Amazônia+10 e da Embaixada da França no Brasil, e apoio do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, a abertura teve a participação do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, dentre outras autoridades políticas e da sociedade civil organizada.


O reitor da Universidade Federal do Pará, Gilmar Pereira da Silva, e o presidente da Université de Guyane (Universidade da Guiana Francesa), Laurent Linguet, enfatizaram a importância dos laços binacionais consolidados. “Esse encontro é muito valoroso porque nos aproxima ainda mais dos nossos parceiros institucionais da Guiana Francesa. Estamos em um ano emblemático dada a Conferência Mundial do Clima na Amazônia, oportunidade única de debater as questões que nos atingem, mas desta vez dentro de casa”, pontuou o reitor da UFPA. Enquanto Linguet, em mensagem no encerramento da programação, destacou que “a fronteira entre a Guiana e o Brasil não é apenas uma linha no mapa, mas um território vivo marcado por uma floresta comum, rios sem fronteiras e uma biodiversidade única no planeta. Essa riqueza nos pede uma ação conjunta”, ressaltou o presidente da Université de Guyane.



Oficinas – Atividades em campo, com oficinas práticas, foram realizadas na quarta (17) no Campus Binacional da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e no Museu Kuahí dos Povos Indígenas, cujos resultados e trocas de experiências foram apresentados no dia seguinte à comunidade participante. Na sequência, foram discutidos os financiamentos e acordos bilaterais, destacando as possibilidades de articulação entre os países para fortalecer iniciativas conjuntas na região.
“O objetivo central foi definir os próximos passos, incluindo a submissão de projetos colaborativos e a criação de mecanismos para garantir a continuidade das ações”, destaca o professor Leandro Juen, da UFPA, representando as redes de pesquisa: CISAM/ INCT-SinBiAm e PPBio AmOr.
Evento histórico – O workshop teve como instituições parceiras a Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade da Guiana (UG), Universidade de Bristol (UK), o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá (FAPEAP) e outras entidades.

Nadège Mézié, do Centro Franco-Brasileiro da Biodiversidade Amazônica (CFBBA), enfatizou os desafios da região e a importância das relações parceiras. “É fundamental reforçar a cooperação com o Brasil, em particular com os estados da fronteira: o Pará, o Amapá, o Amazonas e Roraima, que compartilham não apenas a biodiversidade da Amazônia, mas também desafios sociais, econômicos e ambientais semelhantes”, frisou.
A preparação para o evento iniciou ainda no dia 15 de setembro, com uma reunião no campus binacional da UNIFAP, reunindo lideranças acadêmicas, políticas e comunitárias. Estiveram presentes, o professor e coordenador geral do evento, Hervé Rogez (UFPA/ CISAM), Didier Bereau (Universidade da Guiana); Leandro Juen (UFPA/CISAM/ INCT-SinBiAm e PPBio AmOr), Thaisa Sala Michelan (PPGECO/UFPA e PELD AmOr), Filipe França (Bristol/UFPA, INCT-SinBiAm, PPBio AmOr e CAPACREAM); Otávio Landim, diretor do Campus Binacional da UNIFAP; Emerson Monteiro (UNIFAP); Tiago Vieira Araújo, da Câmara de Vereadores de Oiapoque; Gutemberg de Vilhena Silva (FAPEAP), Ghislaine Prévot (UG) e Nadège Mézié (CFBBA). A reunião contou ainda com professores e alunos do campus, e apresentou laboratórios e oportunidades de colaboração.



Resultados – As discussões resultaram na formulação de dois projetos colaborativos entre Brasil e Guiana Francesa, com foco em conservação ambiental, formação acadêmica e fortalecimento da sociobioeconomia regional. “O workshop consolidou a proposta de submissão conjunta de projetos e criação de mecanismos de continuidade, reforçando o papel do Oiapoque como ponto estratégico de integração científica e cultural na Pan-Amazônia”, concluiu o professor Luciano Montag (UFPA, PPGECO).
Carta do Oiapoque – O evento teve ainda como legado para a ciência regional e brasileira, a Carta do Oiapoque, um documento que reúne não somente os anseios da comunidade acadêmica, científica e social da Pan-Amazônia, mas também propostas e compromissos futuros. Foram reforçados ainda os laços entre os países envolvidos, a partir das redes de pesquisa já existentes, além de novos convênios que devem surgir daqui por diante.
“A Pan-Amazônia Oriental concentra uma imensa diversidade biológica, resultado de modos de vida seculares, mas enfrenta desafios históricos frente a mudanças climáticas e à exploração do meio ambiente. Integrar ciência, conhecimentos tradicionais e populares, assim como políticas públicas se torna urgente. O Oiapoque, por sua posição geográfica estratégica na fronteira Brasil-Guiana Francesa, e como “trait d’union” de populações multiculturais, é um espaço singular/emblématico para promover a cooperação transfronteiriça, fortalecer a ciência amazônica e construir soluções conjuntas para os desafios globais da crise climática”, destaca um dos trechos da carta.
O documento também acentua que a Amazônia precisa ser ouvida a partir “de dentro, de suas comunidades, povos originários, tradicionais e instituições Amazônidas. Toda ajuda sempre é bem-vinda e precisamos de ajuda e parcerias para alcançar e resolver todos os desafios existentes, mas o protagonismo deve ser dos Amazônidas e das instituições Amazônidas”, conclui o texto.
Confira aqui o texto da Carta do Oiapoque na íntegra.
Por Ana Teresa Brasil – Assessoria de Comunicação – Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30
Fotos: Wallace Albuquerque