
O Instituto de Geociências da Universidade Federal do Pará (UFPA) realizou, nesta quinta-feira, 8 de maio, sua tradicional Aula Magna, com a presença de dois renomados pesquisadores brasileiros. O evento, que contou com apoio do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP30, aconteceu no auditório do Setorial Básico I, no campus da UFPA, em Belém, aberto a toda a comunidade acadêmica.
A programação incluiu uma mesa-redonda de debate com os professores convidados Roberto Ventura, docente na área de Geociências da UnB, que abordou o tema “A transferência do sinal isotópico no sistema rocha-solo-água-fauna-flora”, e Rafael Raimundo, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com a palestra “Resolvendo a tragédia dos comuns: bioeconomias, sociobiodiversidade e governança de socioecossistemas resilientes”. A mediação foi do professor titular do Instituto de Geociências da UFPA, com extensa atuação em projetos voltados à Amazônia Pedro Walfir. “Essa é uma oportunidade extraordinária, especialmente para que nossa comunidade estudantil possa rever conceitos, trocar experiências, e além disso, revisitar informações e conhecimentos adquiridos a partir desses pesquisadores convidados com estudos tão valiosos nas suas áreas”, destacou Walfir.
A atividade gratuita garantiu a oportunidade de integração entre estudantes, professores e pesquisadores, além de promover reflexões fundamentais sobre os desafios ambientais e sociais enfrentados pelos ecossistemas da região amazônica.

Em sua palestra, o professor Roberto Ventura explicou como os isótopos químicos presentes nas rochas podem ser rastreados através do solo, da água e até mesmo na fauna e flora, oferecendo insights sobre processos geológicos e ecológicos interconectados. “É importante frisar que cada rio da Amazônia possui uma composição diferente, como por exemplo, o rio Madeira, Solimões, Tapajós, o rio Negro, cada um deles tem registros naturais diferenciados”, ressalta Ventura, esclarecendo detalhes da pesquisa que aponta características geológicas tanto de rochas e minerais, quanto especificidades da flora e da fauna, como por exemplo, os peixes amazônicos. “Tentamos entender o sinal isotópico que sai da rocha, vai para o solo, dele vai para a água, para a planta e para o animal. Partindo desse estudo, procuramos entender se há algum parâmetro ou sinal que nos possibilite relacionar a árvore extraída de um determinado local com a área de onde ela foi retirada. Perguntamos: até mesmo o peixe capturado pode ser relacionado ao rio em que ele estava, assim como o ser humano pode ser associado ao local onde ele viveu a maior parte da vida? A resposta talvez seja sim, se utilizarmos parâmetros isotópicos”, explica o professor.

Já o professor Rafael Raimundo, discutiu as estratégias para equilibrar o uso sustentável dos recursos naturais, promovendo a sociobiodiversidade e fortalecendo a governança de ecossistemas, especialmente em contextos como a Amazônia. Um dos conceitos centrais da palestra foi a bioeconomia. “É uma das palavras emergentes mais utilizadas hoje principalmente neste momento em que Belém se prepara para a COP30. Mas é uma discussão bem ampla sobre sustentabilidade que precisa ser discutida de forma transdisciplinar”, sublinha.
Mas de fato, o que é a bioeconomia? Segundo o professor da UFPB, o conceito envolve recursos e interesses, ou seja, está diretamente ligado à geopolítica. “É importante falar de bioeconomias no plural, algo que vai desde a perspectiva da biotecnologia, passando pela exploração de recursos genéticos da Amazônia, até a concepção de desenvolvimento social, enraizada nos povos indígenas e outras noções de desenvolvimento que existem no Brasil”, pontua o pesquisador.
Sobre os participantes
Prof. Dr. Roberto Ventura
Graduado em Geologia pela Universidade de Brasília (UnB), com mestrado em Geologia Econômica e Prospecção Mineral também pela UnB. Doutor em Geophysical Sciences pela University of Chicago, é professor na UnB e atua na área de Geociências, com ênfase em estratigrafia isotópica e estudos ambientais. Seus principais temas de pesquisa envolvem isótopos de oxigênio e carbono, estratigrafia química e isotópica, e geologia ambiental.
Prof. Dr. Rafael Raimundo
Biólogo formado pela UNICAMP, possui mestrado em Ecologia pela mesma instituição e doutorado em Ciências (Ecologia) pela USP, onde também realizou pós-doutorado. Atualmente é professor na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Atua nas áreas de ecologia evolutiva, interações ecológicas, ecologia comportamental e de comunidades, conectando processos ecológicos e evolutivos com práticas de conservação e restauração da biodiversidade.
Prof. Dr. Pedro Walfir M. Souza Filho (mediador)
Geólogo graduado pela UFPA, com especialização em Geologia e Geofísica Marinha pela UFF. É mestre e doutor em Geologia e Geoquímica pela UFPA, com pesquisas nas áreas de geologia costeira e sensoriamento remoto. Atualmente, é professor titular do Instituto de Geociências da UFPA e possui extensa atuação em projetos voltados à Amazônia.
Texto: Ana Teresa Brasil – Assessoria de Comunicação do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP30
Imagem e Vídeo: Natalia Almeida